terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Milho transgênico: Monsanto em cheque!

  Está assolando a internet a notícia da publicação de um estudo que mostra efeitos tóxicos de milhos geneticamente modificados (GM) da Monsanto. Eis o link do artigo original. Este artigo foi publicado no dia 10 de dezembro no periódico especializado International Journal of Biological Sciences e trata de uma nova análise estatística de resultados obtidos pela própria Monsanto. Os dados originais não foram publicados e os autores os obtiveram graças a ações judiciais movidas pela União Européia e pelo Green Peace contra a Monsanto que a obrigaram a revelarem os dados brutos de suas pesquisas.

   O trabalho original, conduzido pela Monsanto foi feito com 1.200 ratos alimentados com três variedades geneticamente modificadas de milho - NK 603, MON 810 e MON 863 - por 90 dias. NK 603 apresenta resistência ao inseticida glifosato (Roundup), produzido pela Monsanto, enquanto MON 810 e MON 863 produzem uma proteína com efeito inseticida.

   Apesar deste ser o maior estudo reportando o efeito de alimentos GM em mamíferos já publicado integralmente, surpreende que, apesar do grande número de ratos no estudo, cada amostra diferente consiste de apenas 10 animais. Este pequeno número de indivíduos em cada condição amostral faz com que haja uma enorme incerteza estatística relacionada aos resultados publicados anteriormente pela Monsanto. Os autores deste novo trabalho comentam que os testes realizados pela Monsanto não foram adequados para este número amostral, induzindo uma interpretação errônea dos dados. Segundo os autores, este novo trabalho - isento - faz análises estatísticas mais adequadas ao número amostral e analisa parâmetros negligenciados pela pesquisa original da Monsanto, como variação de efeito nos diferentes sexos, por exemplo.

   No conjunto original de dados, diversos parâmetros deixaram de ser medidos, como marcadores específicos de hepatotoxicidade. Como os dados originais foram produzidos pela Monsanto, os autores deste novo trabalho não souberam informar o motivo destes importantes marcadores não terem sido medidos.

   Esta nova análise sugeriu a ocorrência de lesão hepática e renal associada ao consumo dos três milhos GM da Monsanto, resultado que não havia sido confirmado anteriormente pela análise da Monsanto. Os autores advertem que esta nova análise não é uma "prova da toxicidade" dos milhos GM da Monsanto mas sim um "sinal de toxicidade". Isso porque os dados apresentam diversas falhas a notar: 1, os experimentos foram conduzidos somente uma vez e em somente uma espécie - no caso, o rato; 2, os experimentos foram conduzidos por pouco tempo - 90 dias - eliminando a possibilidade de detecção de doenças de longo desenvolvimento, como câncer; 3, o número reduzido de animais envolvidos em cada condição testada - somente dez - não permite uma análise estatística com alta confiabilidade. Os autores sugerem que trabalhos similares sejam conduzidos por, pelo menos, dois anos e em, pelo menos, três espécies diferentes antes que qualquer alimento GM seja liberado para consumo humano.

   Ainda segundo os autores, os efeitos tóxicos apresentados provavelmente estão relacionados à presença residual dos inseticidas utilizados - Roundup - nos milhos. Além disso, como cada alimento GM é elaborado com metodologia e características genéticas distintas, cada um deve ser testado separadamente e resultados de um alimento GM não podem, de forma alguma, ser extrapolados para outros.

   O milho MON 810 e NK 603 já tiveram sua comercialização liberadas pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio - e devem estar em breve, se já não estão, nas mesas dos brasileiros.

   Ainda é cedo para saber os efeitos deste artigo nas ações da Monsanto na bolsa de Nova Iorque (NYSE) mas o fato é que desde o dia 10 de dezembro, as ações da Monsanto caíram quase 3%, enquanto o NYSEI, índice geral da NYSE, subiu mais de 1%. Veja no gráfico abaixo: 

   Uma defasagem de mais de 4% no período. Vamos aguardar para ver se os efeitos desta nova informação serão tão devastadores assim...


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Freakonomics: um tapa no senso comum.


   Quando lancei este Blog, propondo unir assuntos como Biotecnologia e análise gráfica para bolsa de valores, muitos - inclusive eu mesmo - acharam temas díspares para serem tratados em conjunto. Na verdade, à época, o único ponto em comum que eu vi nestes dois assuntos era o fato de eu gostar dos dois.

   Depois que li Freakonomics, percebi que estes assuntos são mais relacionados que eu - e a maioria - supunha. Freakonomis significa algo como economia excêntrica, ou excentriconomia. Neste sensacional livro, os autores Steven Levitt e Stephen Dubner trazem à tona, com comentários excelentes e bem humorados, trabalhos em economia que provam - ou "desprovam" - pontos de vistas que aos olhos do senso comum - ou como foi traduzido, da sabedoria convencional - pareciam ser totalmente diferente ou desconhecidos. Foi a partir daí que conheci uma ciência extraordinária chamada Microeconomia. Ao contrário da Macroeconomia, que trata de assuntos monetários, financeiros, comerciais - inflação, juros, comércio exterior, etc - a Microeconomia estuda a relação entre acontecimentos cotidianos de nossas vidas e mundo. Através de ferramentas microeconômicas pode-se, por exemplo, estudar e prever as variações de comportamento de grupos sociais, fenômenos naturais e biológicos, etc. Assim como a Ecologia estuda as relações entre os homens e o meio, a Economia as mede matematicamente.

   Para quem não se tocou ainda, a variação de preços das ações da bolsa de valores é regida pelas relações de compra e venda executadas por seres humanos. Essas relações causam flutuações de preço baseadas em sentimentos, principalmente no medo e na ganância. A Microeconomia é responsável pelos cálculos e parâmetros que preveem este comportamento e, consequentemente, os valores das ações no mercado.

   Igualmente, diversas ferramentas estatísticas primordiais para as ciências biotecnológicas, são também fundamentais nas microeconômicas. A interseção que até eu mesmo buscava entre Biotecnologia e bolsa de valores está na Microeconomia. E graças a este livro, descobri isso. 

   Recomendo fortemente a leitura deste livro que traz estudos muito interessantes e curiosos que reforçam a teoria de que todos - absolutamente todos - agimos por força de incentivos - positivos e negativos. Estudos como os que mostram o que professores americanos e lutadores de Sumô têm em comum; corretores de imóveis e a Klu Klux Klan têm em comum; porque as pessoas trapaceiam - e todo mundo o faz. Enfim, uma leitura excelente pra quem gosta de ciência e quer, por isso mesmo, saber como entender o funcionamento das coisas. Abaixo o senso comum!

sábado, 12 de dezembro de 2009

Comentário na Veja: Papai não é mamãe.

 Semana passada, a revista Veja publicou o artigo "Papai não é mamãe" relatando os empecilhos biológicos para que homens sejam capazes de cuidar dos filhos bebês - http://veja.abril.com.br/091209/papai-nao-mamae-p-100.shtml. Enviei alguns comentários para a seção Carta aos Leitores. Um deles foi publicado - http://veja.abril.com.br/161209/leitor.shtml. Como somente um dos comentários foi publicado - e claro, não foi o mais cientificista deles - resolvi postar aqui uma análise dos artigos que encontrei na área.

...

Comentário publicado

São válidos os princípios evolutivos que a reportagem usa para justificar aptidões de homens e mulheres em relação ao cuidar dos filhos. No entanto, achar que nossa herança ancestral determina essa capacidade e que estamos biologicamente fadados a esse comportamento é fatalismo e retrocesso. O ser humano tem, por séculos, rompido barreiras vestigiais de seus ancestrais. A prova disso são comportamentos impensáveis para nossos avós geológicos, como adotar uma criança sem nenhuma relação genética consigo e investir esforços no tratamento de uma com anomalia genética ou doença incurável. Além disso, afirmações como "os homens não são fisicamente adaptados para cuidar dos filhos com a mesma desenvoltura que as mulheres" denotam uma visão preconceituosa, desde que o trato diário com uma criança - como dar banho e trocar fralda -, se pensado de forma prática, requer somente habilidade manual e conhecimentos mínimos que podem ser adquiridos em qualquer livro ou website especializado.
Vitor Hugo Moreau
Departamento de Biointeração
Universidade Federal da Bahia
Salvador, BA

...

Comentário não publicado:

Instigado pela reportagem, fui buscar informação científica.
Encontrei vários artigos que, em sua maioria, convergiam para o que
alguns consideram referência principal do tema, um artigo publicado
em 2000 no periódico Evolution and Human Behavior, intitulado 
Hormonal correlates of paternal responsiveness in new and expectant 
fathers
dos quais os resultados, no mínimo, põe em cheque as 
opiniões dos especialistas consultados pela Veja. Para não estender 
muito, este trabalho testou os níveis de diversos hormônios em pais
"grávidos" e "recém paridos". Os resultados resumem o seguinte:

1. Há uma queda nos níveis de testosterona nos pais, no entanto esta
queda não está diretamente relacionada à paternidade pois também é
observada em diversos mamíferos formando casal em relação aos
solteiros.

2. Nos períodos logo após o parto, cerca de dez dias depois, o
contato do homem com o bebê - ou com um boneco de pano - causa uma
diminuição do cortisol (hormônio do estresse) e aumento da
testosterona. Essas duas alterações apontam, ao contrário do que fala
a reportagem - para uma sensação de prazer e retomada da
masculinidade durante o trato com o bebê. Os autores comentam que, do
ponto de vista evolutivo, esta testosterona pode ser importante para
que o macho tome a iniciativa de proteger a prole.

Nos outros comentários que fiz, defendi que a reportagem era, no
mínimo, tendenciosa pois na civilização moderna, os efeitos hormonais
são suprimidos pela razão social. No entanto, agora vejo que nem do
ponto de vista hormonal, a teoria levantada pela reportagem se
sustenta e os "especialistas" consultados por Veja não devem nem se
dado ao trabalho de verificar a literatura científica corrente para
não incorrer nos erros do senso comum.

...


 Algumas figuras que não pude enviar no email:

 A figura ao lado mostra de forma esquemática os níveis de testosterona em machos mamíferos baseado em diversos trabalhos. Reparem que os níveis de testosterona dos pais após o nascimento do bebê é menor quando comparado a machos solteiros mas não quando comparados a machos comprometidos sem filhos. Os seja, não é a paternidade que reduz os níveis de testosterona na maioria dos mamíferos machos, mas o envolvimento em um relacionamento estável. Isso é óbvio, segundo os autores, pois a testosterona estimula o macho a buscar parceiras. Uma vez já estando envolvido com uma parceira,não há necessidade deste hormônio estar aumentado.

 Esta figura mostra os níveis de testosterona - Quadro f - em machos no início e final da gestação (early- e late-prenatal) e após 3 ou 7 semanas após o parto (early- e late-postnatal). Este experimento, feito com diversos casais canadenses, mostra que os níveis de testosterona sobem pouco antes do parto, caem logo após o parto e se restabelecem algumas semanas depois. Como a figura do outro artigo, esta mostra não haver diferenças significativas entre homens casados sem ou com filhos.

 Esta próxima figura mostra os níveis de testosterona e cortisol destes mesmos pais canadense antes e depois deles ninarem um boneco de pano enquanto ouviam uma gravação com choro de bebê. Parece estranho mas este é um modelo da chamada resposta Situacional, na qual se avalia a resposta dos pais à necessidade de cuidado do bebê. O experimento mostra que o maior aumento causado pelo estímulo do cuidar ocorre justamente nas primeiras semanas após o parto, quando os níveis de testosterona estão mais baixos, assim como a queda no cortisol.

  Referências:
Storey e cols., 2000. Hormonal correlates of paternal
responsiveness in new and expectant fathers. Evolution and Human
Behavior
, 21:79-95.
Wynne-Edwards, K. E. e Reburn, C. J. 2000. Behavioral endocrinology
of mammalian fatherhood. TREE, 15 (11): 464-468.

domingo, 29 de novembro de 2009

Filhos do carnaval: a natalidade realmente aumenta no Brasil devido aos excessos do carnaval?

 Desde que viemos morar em Salvador, ouço dizerem que o número de bebês nascidos em novembro aumenta devido ao aumento do apetite sexual das pessoas durante o carnaval. Da mesma maneira, já ouvi estórias sobre o São João, muito festejado no nordeste. Bem, como este é um dos objetivos deste blog, resolvi checar se esta informação é realmente verdadeira ou se apenas mais um mito do senso comum.

 Recorri ao riquíssimo site do IBGE com suas estatísticas de tudo que interessa e não interessa a qualquer cidadão brasileiro. Recolhi dados dos nascimentos registrados entre os anos de 2003 e 2008 diferenciados por mês de nascimento, região e estado da federação. Estes dados me deram algumas indicações interessantes.

 A primeira delas é que o suposto aumento da natalidade em novembro - crianças concebidas em fevereiro - não procede, é mito. O gráfico abaixo mostra o percentual de nascimento do ano em relação ao mês de concepção. Nota-se de imediato que fevereiro é um dos mais baixos índices de concepção do ano em todas as regiões do Brasil, desmitificando a ideia dos filhos do carnaval. Outro fato interessante é que os índices de concepção não parecem ser afetados por épocas ou festas típicas regionais mas sim de maneira relativamente homogênea e sazonal em todo o país, com picos em junho e agosto e reduzidos em fevereiro e março.


 Não creio que as festas juninas tampouco sejam responsáveis pelo aumento das concepções em junho pois este comportamento é observado em todo o país, mesmo em regiões onde as festas juninas não são tão comemoradas, como Sul e Sudeste. Da mesma forma, não creio que o frio tenha influência importante - o que causaria o aumento das concepções no inverno - pois regiões onde as estações do ano são menos marcadas apresentariam este efeito diminuído, o que não é o caso. Da mesma forma, a região Sul - mais fria do país - deveria apresentar este efeito de forma mais acentuada, o que não ocorre.

 Se analisarmos o gráfico por unidade da Federação, observamos o mesmo comportamento para todos os estados individualmente, com uma intrigante exceção, o Amapá:


 O Amapá apresenta um pico de concepção nos mês de novembro - bebês nascidos em agosto. Não tenho uma explicação para esta discrepância mas desafio a quem tiver mais conhecimento acerca da cultura Amapaense que tente explicar o que ocorre em novembro nesse estado.

 Analisando o comportamento do índice de concepção nos estados, observamos ainda algo interessante: todos os estados, inclusive o Amapá, apresentam um "dente" no mês de julho. Tendo um comportamento sazonal, parece que observaríamos um máximo de concepção entre junho e agosto, possivelmente no mês de julho. No entanto, algo ocorre em julho que faz com que o número de concepções seja menor do que os meses vizinhos. A princípio, achei que poderia ser efeito das férias escolares, o que faria as crianças permanecerem mais tempo em casa, demandando mais tempo, esforço e dedicação dos pais. Com isso, talvez sobrasse menos tempo para fazer irmãozinhos...

 O IBGE não traz dados sobre o número de irmãos do recém-nascido mas, para resolver esta questão, podemos fazer uma inferência: há maior probabilidade de que mulheres com idade entre 15 e 19 anos na ocasião do parto sejam primíparas - ou seja, não terem filhos anteriores para interferir na concepção - do que mulheres entre 30 e 34 anos. No entanto, ambos os grupos parecem apresentar o "dente" de diminuição de índice de concepção no mês de julho, sugerindo que as férias escolares não devem ser o motivo desta diminuição.


 Aguardo comentários de quem conseguir enxergar mais informação nos dados para que possamos discutir. Por enquanto, desmistificar o senso comum de que os "filhos do carnaval" estão por aí, nascendo em novembro, já foi meu objetivo alcançado desta postagem.

domingo, 15 de novembro de 2009

Alimentos orgânicos e os pingos no is.

 Tenho sido assediado por amigos em relação ao consumo de alimentos orgânicos. Como todos devem saber, os alimentos ditos "orgânicos" são aqueles cultivados "sem uso de substâncias que coloquem em risco a saúde humana e o meio ambiente. Não são utilizados fertilizantes sintéticos solúveis, agrotóxicos e transgênicos". Tudo isso faz desses alimentos uma alternativa saudável em relação à ingestão de resíduos de fertilizantes, herbicidas e defensivos utilizados nas lavouras convencionais.

 Nesse aspecto, considero tudo "ok" - fora o preço dos alimentos orgânicos que muitas vezes se justifica pelo custo aumentado deste tipo de manejo. Minhas objeções começam quando pseudo-especialistas tentam referenciar suas "verdades" em informações incorretas, incompletas ou equivocadas. Isso é o que mais ocorre em campos de atuação onde comportamentos são motivados por ganhos financeiros,  como é o caso do consumo de alimentos orgânicos. Vários sites, inclusive o site oficial do Ministério da Agricultura (www.prefiraorganicos.com.br), dizem que os alimentos orgânicos são mais nutritivos "mais saborosos e com todas as vitaminas e minerais preservados".

 Estas afirmações - juntamente com minha natural aversão à informações mal referenciadas de senso comum - me fizeram envolver-me em uma breve pesquisa no Estado da Arte. Apresento nesta postagem um resumo do que encontrei - em artigos científicos, é claro! - em relação ao teor de micronutrientes - e esclareço que por micronutrientes entende-se vitaminas, minerais, substâncias antioxidantes, etc - de alguns alimentos orgânicos em comparação com os não orgânicos, ditos convencionais.

 1. Tomate. Sem dúvida tomates são os alimentos mais estudados em relação às diferenças nutricionais entre orgânicos e convencionais. Apesar disso, pouquíssimos artigos - encontrei somente 4 de 2004 pra cá na maior base de artigos biomédicos do mundo (www.pubmed.com) - foram publicados. JUROSZEK e colaboradores (2008) estudaram os teores dos antioxidantes betacaroteno, licopeno, ácido ascórbico (vitamina C) e fenólicos, não encontrando diferenças significativas entre tomates orgânicos e convencionais. BARRETT e colaboradores (2007) em estudo semelhante concluíram que o suco de tomates convencionais é mais colorido e rico em ácido ascórbico e fenólicos, enquanto o de tomates orgânicos é mais ácido e contém mais matéria sólida. CARIS-VEYRAT e colaboradores (2006) detectaram um aumento nos níveis de vitamina C, carotenóides e fenólicos na polpa de tomates orgânicos. No entanto, o consumo desses tomates por seres humanos durante 3 semanas (96 g/dia - coisa pra caramba!) não causou nenhum aumento nos níveis sanguíneos dessas substâncias em comparação aos humanos que consumiram tomates convencionais.

2. Maçãs. LAMPERI e colaboradores (2008) estudaram os níveis de antioxidantes - polifenois e vitamina C - na casca e polpa de maçãs de diferentes variedades e cultivares orgânicos e convencionais. Constataram que fatores como região, solo e variedade afetam muito mais intensamente os níveis destas substâncias na parte comestível da maçã do que o tipo de manejo - orgânico ou convencional.

3. Leite. ELLIS e colaboradores (2007) determinaram que leite produzido a partir de rebanhos convencionais contem maior teor de vitamina A do que de rebanhos orgânicos. Os níveis de vitamina E e betacaroteno não se alteraram entre os dois rebanhos.

4. Trigo. ZORB e colaboradores (2006) determinaram as concentrações de 44 metabólitos - açúcares, aminoácidos e ácidos orgânicos -  em grãos de trigo em cultivares orgânicos e convencionais. Os teores de nenhum dos metabólitos se mostrou alterado.

5. Toranja (grapefruit). LESTER e colaboradores (2007) compararam parâmetros de aceitação por consumidores, assim como teores de minerais, vitamina C, licopeno, açúcares, pectina, fenólicos e nitratos entre toranjas orgânicos e convencionais. As convencionais mostraram-se mais coloridos, com menores teores de ácido tartárico e naringina - substâncias que conferem sabor desagradável à fruta - assim como com maior quantidade do antioxidante licopeno.

6. Brócolis. WUNDERLICH e colaboradores (2008) mediram os níveis de vitamina C em brócolis orgânicos e convencionais não encontrando diferenças significativas entre eles.

 Em absolutamente TODOS os artigos, os autores comentam que diferenças muito mais marcantes e significativas são encontradas entre as estações da colheita, variedade do vegetal, tipo de solo e região de plantio.

 Não quero aqui condenar o consumo de alimentos orgânicos. Fora o preço e o termo dado aos mesmo - desde que o que não é "alimento orgânico" passa a ser "alimento inorgânico" e isso não faz o menor sentido - acho que este tipo de alimento deve trazer benefícios - embora eu ainda não tenha pesquisado o assunto - em relação ao uso, descarte e ingesta de agrotóxicos e defensivos agrícolas. Minha intensão é por os pingos no is e esclarecer o que é realmente benefício e o que é mito no consumo dos "orgânicos".

 Consumir "alimentos orgânicos" para diminuir a contaminação de água, ar, solo e humana, tudo bem. Consumir porque é mais nutritivo é senso comum... e mito.


JUROSZEK e cols. J. Agric. Food Chem. 2009, 57, 1188–1194.

BARRET e cols., Journal of Food Science 72, 9, 2007.

LAMPERI e cols. J. Agric. Food Chem. 2008, 56, 6536–6546.

ELLIS e cols. Journal of Dairy Research (2007) 74 484–491.

ZORB e cols. J. Agric. Food Chem. 2006, 54, 8301-8306.

LESTER e cols. J. Agric. Food Chem. 2007, 55, 4474-4480.

WUNDERLICH e cols. Int J Food Sci Nutr. 2008; 59(1):34-45.

sábado, 17 de outubro de 2009

H1N1. Já vi esse filme...

 Semana passada fui com Astria, minha esposa, fazer outra ultrassonografia pra acompanhar o desenvolvimento da Malú. Me chamou atenção que todas as outras vezes que fomos à clínica, a radiologista, que está grávida, usava máscara. Até aí, tudo ok; profissional de saúde, atendendo um monte de pacientes por dia, grávida... nada mais normal que se prevenir da terrível H1N1!!!!!!!! A assistente, como é praxe das assistentes de médicos, chegou a ser agressiva - Limpa a mão com gel! - apontando para o dispensador de sabão com "gel antisséptico" que agora virou moda. Desta vez ela não usava mais a máscara... A dúvida me veio à mente: porque desta última vez ela não usava máscara? Ela continuava grávida, continuava atendendo vários pacientes... Então, me toquei do que mudou. O Jornal Nacional parou de anunciar os boletins de novos casos e mortes por H1N1 diariamente. É verdade, vocês também repararam? O que houve? A doença parou de matar? Descobriram uma cura milagrosa? Não, a notícia foi outra: "Ministério da Saúde diz que Tamiflu chegará às farmácias (Folha UOL, 3 de setembro de 2009) O laboratório Roche, responsável pela produção do Tamiflu, usado no combate à gripe A, poderá distribuir o medicamento a farmácias e drogarias do país. A informação foi divulgada nesta quinta-feira pelo diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, Eduardo Hage". Muita coisa se explica.
Este ano, foram notificadas 899 mortes por gripe H1N1 no Brasil. Neste mesmo período, mais de 3 mil pessoas morreram de tuberculose. Além disso, embora não haja dados concretos, possivelmente porque a Roche não tinha interesse, uma busca que fiz por artigos em pesquisas epidemiológicas nas décadas de 80 e 90 indicou que o subtipo H1N1 sempre pareceu ser muito comum entre as viroses respiratórias diagnosticadas no país. Arrisco a dizer que, se fosse investigado, o número de óbitos nos anos anteriores não seriam muito diferentes do de 2009.
Nos Estados Unidos, o Relenza, da Glaxo Smithkline, disputa o mercado de “antiflus” com o Tamiflu. Analisando o balanço das ações da GSK na NYSE, a bolsa de Nova Iorque, vemos o efeito desses boatos a curtíssimo e curto prazo. No dia 24 de abril de 2009, o governo americano anunciou a aquisição de mais de 12 milhões de doses de antigripais, incluindo o Relenza (Market Watch). Na segunda-feira seguinte, as ações da GSK saltaram 7,55% na bolsa americana. Esta é uma alta considerada astronômica para a BOVESPA, quanto mais para a NYSE. Mesmo havendo reequilíbrio de preços, em um dia de negócios destes, investidores com informação privilegiadas faturam milhões de dólares.

O Tamiflu é uma concessão da Gilead Science para a Roche. Estas duas empresas também vêm se beneficiando com a gripe suína da mesma forma que ocorreu em 2004-2005 com a gripe aviária. O efeito desta nova campanha nas cotações da Roche não são tão claros -provavelmente por conta da cautela do mercado pela crise recente - embora os lucros com contratos governamentais e licenciamento em vários países sejam muito grandes. No entanto, esta mesma estratégia rendeu uma valorização meteórica naquela época se compararmos a cotação das ações da Roche com o NYSEI, o IBOV deles:

Assim como no Brasil, onde nem liberadas para venda elas eram, estas drogas estavam em declínio nos EUA, com redução de produção pelos fabricantes. Pelo menos até os lobistas espalhadores de boatos entrarem em ação.
Não sou a favor destas teorias de conspiração, mas acho que temos que ter cuidado antes de entrar em pânico por conta de novas “epidemanias” anunciadas pela imprensa leiga...


http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u619011.shtml
http://www.marketwatch.com/story/government-releases-swine-flu-treatment

sábado, 26 de setembro de 2009

A mamona do Lula!

Hoje de manhã eu estava assistindo um programa local aqui de Salvador onde um carinha metido a mestre dá dicas para vestibulandos. Mais tarde eu falo sobre esse cara. Tinha uma professora falando sobre biocombustíveis e enquanto falavam de matérias primas para biodiesel, apareceu uma imagens de folhas de mamona; o diabo da mamona! Lembrei que no congresso da Sociedade de Bioquímica deste ano, várias pessoas me perguntaram em tom de afirmativa: "Biodiesel se faz de mamona, né?" Pois é, a resposta era sempre: não!
O governo Lula tem todos o mérito de alavancar o programa biodiesel (PNPB), de estimular a produção através da adição de biodiesel no diesel veicular (B2, 2% de biodiesel no diesel de petróleo; B3, etc) e de promover leilões de mercado futuro para financiar as indústrias produtoras. O problema é que, para participar dos leilões e vender o biodiesel, as empresas precisam ter um certificado denominado "Selo Combustível Social" que as empresas só recebem quando comprovam a compra de, pelo menos, 50% de sua matéria prima da agricultura familiar. Você pode dizer: "Ótimo incentivo à agricultura familiar". Bem, biodiesel é um combustível, como combustível deve ser um produto barato (menos de R$ 2,00 o litro). Óleos produzidos por agricultura familiar custam mais que isso. Óleo de mamona custa cerca de R$ 2,50 o litro. Como é possível se produzir 900 mL de biodiesel a R$ 2,00/L a partir de 1 litro de óleo de mamona que custou R$ 2,50 e ainda ter lucro? Adiciona-se a isso as incertezas tecnológicas relacionadas aos cultivos familiares: produção, qualidade, preço, confiabilidade, etc. Resultado, praticamente todas as indústrias brasileiras fazem biodiesel de soja, produzida em sistema agroindustrial, logo com preço muito mais baixo que qualquer matéria prima da agricultura familiar.
Não sei como as empresas de biodiesel conseguem o selo mas foi noticiado no jornal há alguns meses um escândalo (que como vários outros, não se ouve mais falar)de uma grande indústria de biodiesel que lançou no mercado uma tonelada (figurativo, foi muito mais que isso) de grãos de mamona "in natura", causando queda nos preços e revolta dos pequenos produtores. O que se especulou foi que a tal empresa adquiriu a mamona para garantir o selo mas fez, na verdade, o biodiesel de soja. Nesse caso, foi mais barato enganar o estado e revender a mamona "in natura" do que fazer biodiesel com ela.
Outro problema, mamona produz um tipo de óleo altamente viscoso. O biodiesel feito de mamona pura não se presta para uso automotivo. A alta viscosidade do biodiesel de mamona não permite que ele seja adicionado a mais de 10% no diesel de petróleo - alguns autores falam em 5%, no máximo.
Enquanto isso, as matrizes oleaginosas para produção de biodiesel no Brasil são, em Aprimeiro lugar soja, depois soja e, alternativamente, soja. Ah! esqueci, também se usa soja. O farelo de soja é a principal forma de conversão de proteína vegetal em proteína animal, através da produção de ração. O óleo é conveniente para alimentação humana. Logo biodiesel como ele é hoje colabora para o discurso dos pseudo-intelecto-ambientalóides de que biocombustíveis geram fome.
Há soluções. O incentivo que deve existir aos chamados biocombustíveis de segunda geração. Aqueles que, por uma série de motivos tecnológicos, não geram competição com a produção de alimentos. Mas se está difícil desmistificar o uso de mamona, quem dirá chegar à segunda geração.
Pra variar, a solução está na tecnologia. Processos de produção e cultivares de plantas oleaginosas que permitam a substituição da soja. Existem várias tecnologias quase prontas, aguardando o investimento necessário para iniciar a produção em médio, ou até mesmo curto, prazo. Espero que o país - e aí incluo governo e, principalmente, empresas - não aja novamente como "país do futuro" e faça os investimentos necessários para estes desenvolvimentos. Vamos ver.

Jiu-Jitsu e a Queda do Complexo

Hoje, como a maioria de vocês, tenho uma vida extremamente ocupada e estressante. Quase todos os meus amigos também têm. Muitos deles recorrem às soluções necessárias para amenizar os problemas psicológicos que as pessoas normais acumulam quando têm que lidar com chefes inseguros e grosseiros, colegas de trabalho incompetentes e desonestos, vizinhos mal educados, excesso de trabalho, etc. Entre essas soluções, estão, medicamentos, terapia, cerveja, um baseadinho de vez em quando; todas elas necessárias e relativamente eficientes. Eu mesmo sou adepto da cervejinha pra relaxar. Já estive em situações onde um medicamento, um profissional ou uma cachaçada pareciam inevitáveis mas a "terapia" que melhor funcionou, e ainda funciona, veio de onde muitas pessoas acham menos provável, da prática do Jiu-jitsu.
Quando era menino, li um livro do meu pai intitulado "Jiu-jitsu e a queda do complexo", escrito pelo Mestre Oswaldo Fadda. Nesse livro, Fadda dava exemplos de alunos e colegas que superaram diversos complexos com o estudo do Jiu-jitsu, eram fracos, inseguros, tímidos, deficientes físicos que ganharam confiança e autoestima para vencer seus principais inimigos, eles mesmos. Não vi mais esse livro desde que se perdeu da biblioteca do meu pai. Ainda procuro um exemplar nos sebos que visito. Aliás, quem souber de um exemplar em um sebo, por favor, me avise pois estou comprando. De qualquer forma, os ensinamentos que o livro trouxe puderam ser comprovados na prática alguns anos mais tarde.
Jiu-jitsu pra mim, hoje, é o motivo pelo qual eu não encho a cara toda sexta-feira, não tomo Rivotril e não vou ao terapeuta, nem parto pra cima da minha chefe ou de alguns colegas de trabalho. Jiu-jitsu é minha terapia, meu clonazepam, minha maconha. Através dele, aprendi a suportar a pressão do dia-a-dia. Incrivelmente, a pressão física pela qual o jiu-jitsu nos faz passar, faz parecer a pressão psicológica do mundo moderno mais leve; faz passar por situações adversas com calma, paciência e lógica; faz pensar com calma para sair de situações difíceis.
Com esse pensamento, agradeço a cada colega que me ajuda na academia, em cada treino, cada posição passada e, principalmente, ao Mestre Zeca, que faz a ponte entre mim esta Arte Suave, colaborando pro meu crescimento pessoal mentalmente sadio.
Osu! (Oss!)

domingo, 20 de setembro de 2009

Postagem de inauguração do Biotecnografia

 Caríssimos. Esta é a postagem de inauguração do meu blog BiotecnoGrafia http://biotecnografia.blogspot.com. Neste blog pretende discutir assuntos relevantes em Ciência e Tecnologia, além de dar e receber pitacos em análise gráfica para bolsa de valores. A princípio dois assuntos "nada a ver" mas estudando sobre técnicas e indicadores de análise gráfica para o mercado de ações, percebi que meus conhecimentos científicos poderiam ser utilizados também nessa área. Não entendo nada de economia e administração, por isso achei interessante uma forma de prever o comportamento do mercado financeiro apenas pela análise do comportamento prévio dos preços das ações. Algo a ver com "medo e ganância", segundo os especialistas.

 Espero contribuição dos meus amigos interessados em um desses assuntos mas também em outros, como fotografia, cinema, literatura, artes marciais e o que mais aparecer. Aguardo.