Hoje de manhã eu estava assistindo um programa local aqui de Salvador onde um carinha metido a mestre dá dicas para vestibulandos. Mais tarde eu falo sobre esse cara. Tinha uma professora falando sobre biocombustíveis e enquanto falavam de matérias primas para biodiesel, apareceu uma imagens de folhas de mamona; o diabo da mamona! Lembrei que no congresso da Sociedade de Bioquímica deste ano, várias pessoas me perguntaram em tom de afirmativa: "Biodiesel se faz de mamona, né?" Pois é, a resposta era sempre: não!
O governo Lula tem todos o mérito de alavancar o programa biodiesel (PNPB), de estimular a produção através da adição de biodiesel no diesel veicular (B2, 2% de biodiesel no diesel de petróleo; B3, etc) e de promover leilões de mercado futuro para financiar as indústrias produtoras. O problema é que, para participar dos leilões e vender o biodiesel, as empresas precisam ter um certificado denominado "Selo Combustível Social" que as empresas só recebem quando comprovam a compra de, pelo menos, 50% de sua matéria prima da agricultura familiar. Você pode dizer: "Ótimo incentivo à agricultura familiar". Bem, biodiesel é um combustível, como combustível deve ser um produto barato (menos de R$ 2,00 o litro). Óleos produzidos por agricultura familiar custam mais que isso. Óleo de mamona custa cerca de R$ 2,50 o litro. Como é possível se produzir 900 mL de biodiesel a R$ 2,00/L a partir de 1 litro de óleo de mamona que custou R$ 2,50 e ainda ter lucro? Adiciona-se a isso as incertezas tecnológicas relacionadas aos cultivos familiares: produção, qualidade, preço, confiabilidade, etc. Resultado, praticamente todas as indústrias brasileiras fazem biodiesel de soja, produzida em sistema agroindustrial, logo com preço muito mais baixo que qualquer matéria prima da agricultura familiar.
Não sei como as empresas de biodiesel conseguem o selo mas foi noticiado no jornal há alguns meses um escândalo (que como vários outros, não se ouve mais falar)de uma grande indústria de biodiesel que lançou no mercado uma tonelada (figurativo, foi muito mais que isso) de grãos de mamona "in natura", causando queda nos preços e revolta dos pequenos produtores. O que se especulou foi que a tal empresa adquiriu a mamona para garantir o selo mas fez, na verdade, o biodiesel de soja. Nesse caso, foi mais barato enganar o estado e revender a mamona "in natura" do que fazer biodiesel com ela.
Outro problema, mamona produz um tipo de óleo altamente viscoso. O biodiesel feito de mamona pura não se presta para uso automotivo. A alta viscosidade do biodiesel de mamona não permite que ele seja adicionado a mais de 10% no diesel de petróleo - alguns autores falam em 5%, no máximo.
Enquanto isso, as matrizes oleaginosas para produção de biodiesel no Brasil são, em Aprimeiro lugar soja, depois soja e, alternativamente, soja. Ah! esqueci, também se usa soja. O farelo de soja é a principal forma de conversão de proteína vegetal em proteína animal, através da produção de ração. O óleo é conveniente para alimentação humana. Logo biodiesel como ele é hoje colabora para o discurso dos pseudo-intelecto-ambientalóides de que biocombustíveis geram fome.
Há soluções. O incentivo que deve existir aos chamados biocombustíveis de segunda geração. Aqueles que, por uma série de motivos tecnológicos, não geram competição com a produção de alimentos. Mas se está difícil desmistificar o uso de mamona, quem dirá chegar à segunda geração.
Pra variar, a solução está na tecnologia. Processos de produção e cultivares de plantas oleaginosas que permitam a substituição da soja. Existem várias tecnologias quase prontas, aguardando o investimento necessário para iniciar a produção em médio, ou até mesmo curto, prazo. Espero que o país - e aí incluo governo e, principalmente, empresas - não aja novamente como "país do futuro" e faça os investimentos necessários para estes desenvolvimentos. Vamos ver.
Bom, menos mal para os produtores de mamona que o óleo de rícino é ainda muito utilizado na indústria alimentícia e farmacêutica e tem alto valor comercial, incorporado nos nossos chocolates e doces... É só mais um caso da "ingnorança que astravanca o pogresso", pois no ramos nos biocombustíveis, como em qualquer outro em que haja interesses políticos-comerciais e pouca tecnologia aparece muito picareta pra dar palpite e tirar dinheiro de gente que não entende nada, mas tá doido pra tirar uma "casquinha" da novidade, sempre de olho no dinheiro que vai ganhar. It´s sad, but it´s the true...
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