segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pizza: integral, antioxidante e em 2 minutos e 10 segundos

 Como amante, consumidor e estudioso do preparo de pizza, trouxe um artigo muito interessante para quem procura mais que benefícios gastronômicos destas delícias. JEFFREY MOORE e seus colaboradores da University of Maryland trazem no seu estudo algumas informações interessantes a respeito dos teores de antioxidantes na pizza feita com massa integral em relação ao tempo de fermentação e temperatura de cozimento. Os autores mediram os níveis de sequestradores de radicais hidroxilas (HOSC), capacidade de absorção de radicais de oxigênio (ORAC), capacidade relativa de sequestrar radicais 2,2-difenil-1-picrilhidrazil livres (DPPH), fenois totais e ácido ferúlico total. Todos índices característicos de potencial antioxidante em alimentos. O autor discute, baseado em referências, que o aumento de antioxidantes nos alimentos a base de trigo integral estão ligados a diminuição dos riscos de desenvolvimento de câncer e doenças cardiovasculares.

 A figura abaixo mostra o aumento dos níveis de antioxidantes relacionado ao tempo de fermentação da massa, sendo um tempo longos (48 horas) mais adequados para esta característica.

 

 Mais interessante ainda é o efeito da temperatura de cozimento da pizza. Aumento da temperatura do forno de 204oC para 288oC causa um aumento nos níveis de antioxidantes da massa integral. Embora o autor não tenha testado temperaturas mais altas, parece que quanto mais quente melhor.


 Citando o blog do meu amigo Jeff Verasano, especialista no preparo desta iguaria da culinária italiana, a temperatura ideal do forno para preparo de pizza está acima dos 280oC, onde a massa demora entre 5 e 7 minutos para ficar pronta, sendo ideal o preparo a 440oC, onde a pizza leva extraordinários 2 minutos e 10 segundos para ficar neste ponto.

Levando em conta estas informações - científica e gastronômica - revelamos um dos segredos da longevidade mediterrânea. Se acrescentarmos azeite de oliva e vinho à receita, está aí o segredo.

Bom apetite e vida longa!

Referência:

Moore et al., J. Agric. Food Chem. 2009, 57, 832–839


quarta-feira, 28 de julho de 2010

"Pinguçogenética"

 Alcoolismo é uma desordem comportamental que envolve interações complexas entre diferentes genes e entre genes e ambiente. Entre estas interações, há um exemplo claro, a produção e funcionamento das enzimas responsáveis pela metabolização do álcool no homem.

 O álcool é principalmente metabolizado no fígado por três sistemas. Entre eles, as enzimas álcool desidrogenase (ADH) e aldeído desidrogenase (ALDH) formam o sistema mais eficiente de metabolização de etanol em condições subtóxicas, ou seja, consumo leve a moderado. Este sistema converte o álcool etílico (etanol) em acetato em dois passos executados por estas enzimas hepáticas. São eles:


 A produção desses NADHs é uma das principais responsáveis pelo efeito tóxico do etanol, entre eles a hipoglicemia que leva ao coma alcoólico e à esteatose hepática (fígado gordo) que leva à cirrose mas isso será tratado em outra ocasião.

 O que quero tratar aqui e da variação genética dessas duas enzimas apresentada em populações humanas. Existem vários subtipos dessas enzimas, o que chamamos de polimorfismo. Genes diferentes produzem enzimas ligeiramente diferentes mas que podem funcionar de maneira sensivelmente distintas. Por exemplo, sete subtipos de ADH são produzidos por humanos, entre elas duas são as principais, ADH1B1 e ADH1B2, assim como a ALDH também é produzida em duas formas, ALDH2.1 e ALDH2.2. Para simplificar, vamos chamar de ADH1 e ADH2 e de ALDH1 e ALDH2, respectivamente. A ADH1 é cerca de 5 vezes mais eficiente que a ADH2, enquanto que a ALDH1 é quase 1000 vezes mais eficiente que a ALDH2. Essas diferenças são mostradas no parâmetro de eficiência enzimática (Vmax/Km) na tabela abaixo:



 Diversos artigos mostram que pessoas que produzem os tipos 2 dessas enzimas (ADH2 e ALDH2) tem uma espécie de proteção contra o desenvolvimento de alcoolismo desde que a chances destas pessoas se tornarem alcoólatras é significantemente menor. Isto pode ser verificado na tabela abaixo que mostra a razão de chances (odds ratio) do desenvolvimento de alcoolismo em pessoas que possuem as diferentes combinações dos genes de ADH1 e 2, e ALDH1 e 2.


 Reparem que o grupo de referência é aquele que possui os dois alelos (genes) ADH1 e ALDH1. Este grupo possui o odds ratio de 1 comparado com os outros. O grupo com a menor chance de alcoolismo é aquele que possui os dois alelos ADH2 e ALDH2 (odds ratio = 0,01). Conforme os alelos dos dois genes do tipo 2 aparecem, aumentam as chances de alcoolismo, sendo que 3 do tipo 1 e um do tipo 2 (ADH1B1/1 e ALDH2.1/2) é o mais alto (0,40).

 Resumindo, quanto mais eficiente o sistema de metabolização de etanol, maior a chance de alcoolismo. O autor sugere que o acúmulo de acetaldeído, que é tóxico, pode ser a chave deste efeito já que as combinações onde a ADH é muito eficiente (produz muito acetaldeído) e a ALDH e pouco eficiente (consome pouco acetaldeído) não foram encontradas na população de alcoólatras.

 De qualquer forma, parece que quanto mais mal o álcool fizer pro sujeito, menos a chance dele virar alcoólatra. Logo, se você acorda bem depois daquela noitada regada a muita cerveja, uisque, vodca, tequila e cachaça, preocupe-se, você pode ser do grupo 1/1. Ou seja, geneticamente determinado a ser um pinguço.

Referências:

Santos, et al. Alcohol 14, 1997, 3:205-207;

Chen, et al. Chemico-Biological Interactions, 2009, 178:2–7.

domingo, 25 de abril de 2010

Desenvolvimento humano versus crescimento econômico [PARTE 3]: relações com os royalties do pré-sal.

 Na postagem anterior, mostrei um gráfico relacionando PID per capita e IDH de diversos países. Li mais tarde no Globonews.com que o FMI revisou para cima a previsão de crescimento do Brasil para 2010. Neste mesmo relatório, o FMI alerta que "o país precisa suspender as políticas de estímulo à economia, que podem acabar provocando um superaquecimento interno". Este alerta confirmou o que foi dito aqui e que, no fundo, todo mundo sabe: o país precisa frear o crescimento econômico não sustentado e canalizar investimentos na melhoria do desenvolvimento humano. Isto confirma, ainda, a virada na curva PIDxIDH mostrado. Na postagem, comentei que esta virada passa por um aumento no IDH do país para valores acima de 0,87.

 Alguns estados da federação possuem IDH acima deste patamar: Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul. O gráfico abaixo mostra a relação do PIB per capita com o IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal). O IFDM é um índice baseado no IDH só que mais adaptado à realidade dos municípios brasileiros.

 Os estados com IDH - consequentemente IFDM - mais alto, a corrente DH-CE está mais expressiva, enquanto que nos estado mais pobres, a corrente CE-DH ainda é mais importante. Desta forma, os investimentos em DH concentrado nos estados mais pobres da federação se faz necessário para elevar a média nacional acima dos 0,87, comentado anteriormente.

 Pois bem, a desigualdade social é um dos fatores que afetam indiretamente o IDH do país. Dificilmente o Brasil vai subir na escala de desenvolvimento mundial, alavancado pelas riquezas de Sul e Sudeste, enquanto Norte e Nordeste permanecerem pouco desenvolvidos.

 Recentemente, uma discussão em relação ao destino dos royalties pagos pela exploração do petróleo do pré-sal. Os estados produtores, principalmente Rio de Janeiro, reivindicam estes recursos. A exploração do petróleo do pré-sal pode ser uma das principais fontes de riqueza do país nas próximas décadas. Não tenho interesse de levantar discussões políticas sobre o assunto. Mas fica claro que o direcionamento destes recursos para estados que já apresentam um alto PIB - consequentemente alto IDH - pode trazer benefícios imediatos para o estado. No entanto, o desenvolvimento do país depende de um desenvolvimento igualitário entre todos os estados, desde que o IDH do país é composto pela média ponderada dos mesmos. Ou seja, em um primeiro momento, os estados produtores podem se beneficiar dos royalties do pré-sal. No entanto, a médio e longo prazos, o desenvolvimento desigual da nação acabará por atravancar o desenvolvimento de todos os estados, inclusive os produtores de petróleo.  Fica a discussão para que possamos olhar a situação de uma ótica mais de longo prazo.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Desenvolvimento humano versus crescimento econômico [PARTE 2]: lições para se aprender com os BRICs.

 Para quem leu a postagem anterior, deve se lembrar que Gustav Ranis o colaboradores apresentaram duas correntes de influência existentes entre o crescimento econômico (CE) de um país, medido pelo seu PIB per capita e seu desenvolvimento humano (DH), medido pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Apelidei, parafraseando os autores, estas duas correntes de CE-DH e DH-CE. Naquele artigo, eles mencionam a influência do CE para o desenvolvimento humano - corrente CE-DH - como os investimento que o enriquecimento do país permite em infraestrutura de saúde, educação, segurança. etc. Enquanto a corrente DH-CE seria a colaboração de uma força de trabalho exercida por uma população mais educada, inventiva, criativa e, consequentemente, produtiva. Segundo os autores, as duas correntes devem ocorrer para que um país se torne desenvolvido. No entanto, o caminho seguido por diversos países para atingir o chamado "desenvolvimento virtuoso" pode passar pelo crescimento do PIB com investimentos massivos no potencial humano, seguido de um empurrão no PIB gerado pela produtividade de uma população educada e investimentos em pesquisa, inovação e tecnologia.

 Baseado nesta ideia, busquei os índices de PIB per capita e IDH de 178 países  - desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento - e correlacionei estes dois parâmetro. O resultado está na gráfico abaixo:


 Correlação entre PIB per capita e IDH em 178 países. Fonte: NatioMaster.


 Reparem que em países pobres, pequenas variações do PIB per capita causam grande aumento do IDH. Isso porque, nesta faixa de investimento, a corrente CE-DH é muito expressiva. Esse fato se mostra graficamente pela grande inclinação da curva de tendência em valores menores de PIB e IDH. Na medida que o país se desenvolve, a correlação PIB x IDH chega em um ponto de inflexão, onde a influência das correntes CE-DH e DH-CE se equilibram. Após este ponto de inflexão, pequenos aumentos de IDH refletem grande aumento do PIB per capita, demonstrando a força da corrente DH-CE. Neste ponto, o país colhe os resultados dos investimentos em DH realizados, pois a população culta e educada força, com sua produtividade, inventividade e criatividade o crescimento econômico baseado no desenvolvimento da ciência, tecnologia e serviços terciários.

  Repare que o comportamento médio da correlação PIB x IDH pode ser estimado pelo ajuste dos dados dos países a uma equação logarítmica. Esta linha seria o desenvolvimento "médio" de PIB e IDH concomitantemente e poderíamos inferir que seria o comportamento ideal de crescimento de um país, segundo Ranis e colaboradores (2000). Neste caso, países que se localizam acima da linha estão tendendo a desenvolvimento assimétrico DH, enquanto os abaixo da linha para desenvolvimento assimétrico CE. Nos países acima da linha, o desenvolvimento humano é acentuado para o estágio  de crescimento econômico. Enquanto nos países abaixo da linha, o desenvolvimento humano não segue o crescimento econômico do país. Neste países, normalmente há, ainda desigualdades sociais acentuadas e problemas básicos que não permitem o aumento do IDH até patamares médios para países deste nível de riqueza - pelo menos não para toda a população.

 O Brasil, como mostrado no gráfico se encontra próximo desta inflexão. Este é um ponto chave do desenvolvimento do país pois os investimentos no DH devem ser intensificado para que se reflita em um aumento do IDH. Intensificados e canalizados para serviços básicos, principalmente à população menos assistida pelas ações de DH do país. É imperativo que o Brasil consiga romper esta inflexão para que seu crescimento seja perene. Se considerarmos o PIB per capita médio de todos os países analisados - cerca de US$ 13.000,00 - para o Brasil ficar entre os mais ricos deve fazer investimento para elevar seu IDH para cerca de 0,87 (linhas tracejadas). Atualmente é 0,813. Segundo a tendência mundial, a partir deste ponto o crescimento econômico é mais fortemente sustentado pelo desenvolvimento humano, como já dito.

 Entre os países do chamado BRIC - Brasil, Rússia, China e Índia, o Brasil se encontra em posição privilegiada por ser o único país com democracia plena e consolidada, além de estar bem localizado em termos de PIB per capita. No entanto, se analisarmos o posicionamento do país em relação a linha de tendência média, vamos ver que China e Índia se encontram próximos, e até um pouco acima da linha - denotando um desenvolvimento mais equilibrado entre CE e DH, enquanto o Brasil de encontra abaixo da linha, mostrando que o DH ainda não acompanha na mesma proporção o CE.

 Existe no gráfico um grupo de países que desvia claramente da maioria para baixo da curva. Estes países estão marcados com símbolos X - ao contrário da maioria com símbolo circular. Estes países formam o grupo dos 20 maiores produtores de petróleo do mundo em barris per capita ou têm suas economias baseadas na exploração de diamante e/ou ouro. Nesses países - mesmo os desenvolvidos - o IDH não acompanha o crescimento do PIB pois, como se sabe, uma das marcas do petróleo nos países onde há exploração é a desigualdade social. Isso explica o comportamento da correlação da Rússia que, mesmo estando bem abaixo da linha média de correlação da maioria dos países, ainda está acima da curva característica dos países produtores de petróleo, mostrando que o país apresenta DH acima das média dos países do seu bloco, mesmo estando mais abaixo que o Brasil.

 Acho que estes dados servem de alerta para que o Brasil não repita o ciclo de desenvolvimento assimétrico das décadas de 60 e 70. Para que isso não ocorra, investimentos em educação primária e secundária, hospitais, creches, segurança pública, saneamento básico, programas de segurança alimentar, etc, devem ser realizados massivamente e urgentemente. Do contrário, que já sabemos onde o "desenvolvimento" vai parar. 

sábado, 17 de abril de 2010

Desenvolvimento humano versus crescimento econômico: os mesmos erros novamente.

 O Brasil passa por um crescimento econômico empolgante desde a última década. Esta fase possui precedentes nas décadas de 60 e 70 quando o país viveu um boom de desenvolvimento. Infelizmente naquela ocasião, o desenvolvimento levou nossos burros à água e o país mergulhou em uma fase econômica e politicamente negra, com inflação passando dos 90% em alguns meses. Várias hipóteses se levantam acerca dos sucessos e fracassos destes ciclos. Não tenho pretensão de discutir política aqui, pelo contrário, o objetivo deste Blog é discutir Ciência. No entanto, a Ciência traz algumas respostas interessantes e o que é melhor, comprovadas empiricamente a respeito dos nossos ciclos de prosperidade e fracasso econômico.  

 Gustav Ranis, prêmio Nobel de Economia, publicou com seus colaboradores, em 2000 o trabalho intitulado “Crescimento Econômico e Desenvolvimento Humano”. Neste artigo, os autores fazem um paralelo teórico e prático entre a aplicação destes dois conceitos em diversos países de 1960 a 1992 e os resultados realizados por estes países.

 Claro que existe uma correlação muito forte entre estes dois conceitos e, normalmente, os dois estão atrelados. Desenvolvimento humano (DH), principalmente em relação à saúde e educação, promove maior desenvolvimento econômico por proporcionar melhoria na qualidade da força de trabalho. Por outro lado, o crescimento econômico (CE) fornece recursos que possibilitam um aumento no DH. Os autores chamam esta relação de relação de duas correntes, uma corrente de CE para DH (CE-DH) e outra de DH para CE (DH-CE).

  A corrente CE-DH:

 É principalmente determinada pelo governo, através de políticas públicas de aplicação de recursos em DH e através da sociedade civil, principalmente por intermédio de organizações não governamentais (ONGs). Mesmos índices de CE podem levar a DH extremamente discrepantes a depender das políticas públicas governamentais – água potável, saúde, educação, segurança e incentivo às ONGs. Está empiricamente comprovado por diversos estudos citados que a corrente CE-DH é maior quanto:

1.      Menor for a proporção da população abaixo da linha de pobreza,

2.      Maior for a proporção de recursos destinados a ações de DH. Esta correlação é ainda maior quando as ações são relacionadas à educação feminina e ao controle da mulher sobre a s finanças familiares,

3.      Maior for a eficiência das ONGs,

  A corrente DH-CE:

 Amplas evidências sugerem que quanto mais saudável, nutrida e educada, mais uma população contribui para o CE. Esta influência se dá, entre outros aspectos, pelo aumento da produtividade e da criatividade da força de trabalho. Os autores destacam que (i) saúde, nutrição e educação primária e secundária aumentam a produtividade de trabalhadores rurais e urbanos, (ii) educação secundária facilita a aquisição de capacidades e habilidades técnicas, (iii) Educação terciária sustenta o desenvolvimento das ciências básicas, da apropriação de tecnologias extrangeiras e do desenvolvimento de tecnologia própria, e (iv) Educação terciária representa um elemento fundamental no desenvolvimento de instituições chaves do governo, do judiciário, do sistema financeiro, da imprensa, entre outros, extremamente importantes para o CE.

 Como dado empírico, o artigo faz um estudo com 35 a 76 países em desenvolvimento – dependendo do parâmetro disponível – entre os anos de 1960 e 1992. Os países foram divididos em grupos, dependendo dos parâmetros de CE e DH, assim como seus resultados no período foram classificados como viciosos, virtuosos, crescimento assimétrico de CE e de DH. Desempenho virtuoso é aquele em que CE e DH são igualmente desenvolvidos; vicioso é aquele que CE e DH são igualmente abaixo da média. Crescimentos assimétricos foram aqueles nos quais um dos parâmetros cresceu, enquanto que o outro não acompanhou este crescimento. Ambos os crescimentos assimétricos devem ser, em tese, insustentáveis, pois existe, como dito acima, uma correlação forte entre CE e DH. A figura abaixo mostra os países estudados divididos nas quatro categorias segundo as médias de CE e DH dos países em desenvolvimento. Note que a maior parte dos países aparece nas regiões de desenvolvimento virtuoso ou vicioso, comprovando a forte relação entre CE e DH. 

 Mas os resultados mais interessantes vêm migração dos países entre as categorias no decorrer do tempo. A figura abaixo mostra as mudanças de categorias durante três fases: entre 1960 e 1970, entre 1970 e 1980 e entre 1980 e 1992. 

 Dos 35 países da categoria vicioso na década de 60:

18 permaneceram nesta categoria entre 60 e 70.

6 se moveram para assimétrico CE entre 60 e 70. No entanto, 4 deles voltaram para o vicioso em 1980.

3 se moveram para assimétrico DH entre 60 e 70 e somente 1 voltou para vicioso em 80.

1 (Quênia) moveu-se para virtuoso entre 60 e 70 mas voltou para vicioso em 80.

2 (Sri Lança e Botsuana) moveram-se para virtuoso e permaneceram assim em 80.

 

 Dos 8 países da categoria assimétrico CE na década de 60 - inclui-se aqui o Brasil – todos moveram-se para a categoria vicioso em 80.

 

 Dos 13 países da categoria assimétrico DH na década de 60:

            1 (Costa Rica) permaneceu nesta categoria.

            4 (Chile, China, Colômbia e Indonésia) moveram-se para a categoria virtuoso em 80.

            4 moveram-se para categoria vicioso em 80.

            3 moveram-se para assimétrico CE em 70 e depois para vicioso em 80.

 

 Dos 13 países da categoria virtuoso na década de 60:

            5 mantiveram-se na categoria em 80.

            5 caíram para assimétrico CE em 70, sendo que 3 destes caíram para viciosos em 80.

 É importante notar que crescimento assimétrico – tanto CE quanto DH - foi uma situação temporária em todos os casos com exceção da Costa Rica.

 Este estudo mostra, ainda, que em um terço dos casos de crescimento assimétrico DH houve migração subseqüente para virtuoso, enquanto que todos os casos de crescimento assimétrico CE levaram a migração para vicioso. Poucos países migraram de vicioso diretamente para virtuoso (2/35) mas um número significativamente maior fez a transição por assimétrico DH (7/15). Nenhum país fez a transição via assimétrico CE (0/14), sugerindo não ser possível fazer desenvolvimento econômico assimétrico perene. Não é possível a transição vicioso-assimétrico CE-virtuoso.

 Os autores discutem que a transição vicioso-assimétrico DH pode ser realizada com o fortalecimento da corrente CE-DH, empregando massivamente recursos em saúde, educação e nutrição da força de trabalho, enquanto que a migração de assimétrico DH para virtuoso depende do fortalecimento da corrente DH-CE, ou seja, aumento da produção de recursos pelo aumento da produtividade da força de trabalho gerada pelo DH. Ainda, a corrente CE-DH é fortalecida com investimentos em educação básica e secundária, hospitais e programas nutricionais, enquanto que a corrente DH-CE se fortalece com investimentos em universidades, pesquisa e inovação.

 Em mais um ciclo de crescimento econômico assimétrico, o Brasil continua a cometer os mesmos erros de décadas anteriores, ignorando as políticas públicas que fortaleceriam a corrente CE-DH. Completa contramão da história. Está tudo aí, é só fazer.

 

REFERÊNCIA:

RANIS, G., STEWART, F., RAMIREZ, A. Economic Growth and Human Development (2000) World Development 28, 2:197-219.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Maconha: uso, abuso e desenvolvimento de psicose.

Maconha é a droga mais utilizada em diversos países do mundo. Segundo diversos autores, a percepção do risco associado ao uso de maconha vem caindo e diversas iniciativas para descriminalização e redução de danos do consumo de maconha têm sido conduzidas – para informações, visite www.growroom.net.

Há indícios que o uso de maconha pode trazer problemas de saúde como disforia, desordens comportamentais, dependência, déficit no desenvolvimento cognitivo, desordens psicológicas e comportamento anti-social, embora não esteja totalmente comprovados esta relação quanto ao uso da maconha ou a fatores psico-sociais associados ao consumo, inclusive a sua marginalização.

Um dos principais efeitos associados ao consumo de maconha é o desenvolvimento de sintomas de esquizofrenia. Embora este risco venha sendo reportado, ainda há muita controvérsia a cerca da confiabilidade das pesquisas conduzidas. O modelo de estudo reconhecido como mais confiável em relação à previsão do risco de desenvolvimento de efeitos colaterais é o estudo de coorte, onde uma amostra da população é avaliada quanto ao seus hábitos de consumo, sintomas prévios de esquizofrenia e acompanhado por alguns anos para que uma nova avaliação possa ser conduzida após alguns membros desta população ter sido exposto ao uso da maconha.

Para quem não sabe ainda, o princípio ativo da maconha - delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) – está associado ao desenvolvimento de sintomas semelhantes aos da esquizofrenia quando administrado em voluntários saudáveis. Este efeito tem sido associado ao aumento da liberação de dopamina no cérebro. Esta observação, assim como o aumento do número de receptores para THC no cérebro de pacientes com esquizofrenia, tem levado ao estudo da associação entre consumo de maconha e o desenvolvimento da doença.


Fazendo um levantamento na literatura – como é a proposta deste Blog – achei alguns artigos que demonstram trabalhos do tipo coorte estudando o tema. Assim segue:

Andreasson e colaboradores e Zammit e colaboradores realizaram estudos com amostra de mais de 50.000 indivíduos na suécia e observaram que a probabilidade média (odds ratio) de se desenvolver sintomas de esquizofrenia em usuários de maconha eram 3 vezes maior do que em não usuários quando os mesmos faziam este consumo até os 25 anos de idade. Entre os indivíduos que fizeram uso de maconha mais de 50 vezes durante a vida, esta chance passava a ser 6 vezes maior. A mesma avaliação feita com os mesmos indivíduos aos 35 anos, mostrou uma chance um pouco diminuída, de 2,2 vezes maior em relação a não usuários.

Em estudo realizado na Holanda com 4.848 indivíduos, van Os e colaboradores demonstrou que os riscos de desenvolvimento de esquizofrenia em usuários de maconha aumentam 2,76 vezes em relação a não usuários. O impressionante é que se são avaliados os riscos entre pacientes que já apresentavam aos 11 anos de idade sintomas relacionados a esquizofrenia, esta probabilidade média passava a ser 24,17 vezes maior do que não usuários.

Em Monique, Enquet e colaboradores demonstraram em um estudo com 2.434 indivíduos que o risco de desenvolvimento de sintomas de esquizofrenia entre os que fizeram uso de maconha por mais de cinco vezes era 2 vezes maior do que em não usuários. Este trabalho também estabelece uma relação dose dependente, de modo que entre os que fazem uso menos de uma vez ao mês, uma a duas vezes por semana e todos os dias, apresentam risco aumentado em 1,23; 4,9 e 6,8 vezes, respectivamente.

Fergusson e colaboradores e Arseneault e colaboradores, em estudos realizados na Nova Zelândia com mais de mil indivíduos cada, determinaram um risco aumentado em 4,5 vezes em usuários de até 15 anos de idade e de 1,65 vezes em usuários de até 18 anos de idade. Neste mesmo trabalho, o risco demonstrado quando o indivíduo já apresentava sinais de esquizofrenia aos 9 anos de idade foi 15,97 vezes maior que em não usuários. Adicionalmente Stefanis e colaboradores, em estudo realizado na Grécia com 11.048 indivíduos demonstrou que o risco de desenvolvimento de esquizofrenia na vida adulta é muito maior quando os usuários fizeram uso antes dos 15 anos em relação aos que fizeram uso após os 16.

Com o apanhado de resultados descritos, fiz este gráfico que correlaciona risco comparativo do usuário em relação a idade média de consumo entre indivíduos que apresentavam ou não sintomas prévios de esquizofrenia:


Fica claro que quanto mais jovem o usuário, maior o risco de desenvolvimento de esquizofrenia, demonstrando o perigo do uso de maconha, assim como de diversas outras drogas, inclusive as lícitas, na adolescência.

Outro fator que deve ser levado em consideração é o aumento acentuado do risco em pacientes com sintomas prévios de esquizofrenia. Este aumento tem sido demonstrado também no caso de pacientes portadores de outros distúrbios psicológicos.

Diversos trabalhos estudam e preconizam a possibilidade de uso medicinal da maconha. Este apanhado de resultados, embora pequeno frente à vasta literatura disponível, serve para alertar que uma avaliação psicológica criteriosa deve ser conduzida antes de incentivar um paciente a utilizar maconha com fins terapêuticos. Além disso, adolescentes, principalmente até os 16 anos devem ser desencorajados de usar qualquer droga, inclusive maconha. Qualquer uso medicinal deve sempre considerar a relação custo/benefício do tratamento.

Quanto ao usuário eletivo e recreativo, embora o risco de desenvolvimento de esquizofrenia seja cerca de duas a três vezes maior que em não usuários, convém lembrar que a incidência de esquizofrenia na população mundial gira em torno de 1%. Faça as suas contas.

 

REFERÊNCIAS

C. Roncero, F. Collazos, S. Valero, M. Casas. Cannabis consumption and development of psychosis: state of the art. Actas Esp Psiquiatr 2007;35(3):182-189

Tanda G, Pontieri FE, Di Chiara G. Cannabinoid and heroin activation of mesolimbic dopamine transmission by a common mu1 pioid receptor mechanism. Science 1997;27;276:2048-50.

Dean B, Sundram S, Bradbury R, Scarr E, Copolov D. Studies on [3H]CP-55940 binding in the human central nervous system: regional specific changes in density of cannabinoid-1 receptors associated with schizophrenia and cannabis use. Neuroscience 2001;103:9-15.

Andreasson S, Allebeck P, Engstrom A, Rydberg U. Cannabis and schizophrenia. A longitudinal study of Swedish conscripts. Lancet 1987;26;2:1483-6.

Zammit S, Allebeck P, Andreasson S, Lundberg I, Lewis G. Self reported cannabis use as a risk factor for schizophrenia in Swedish conscripts of 1969: historical cohort study. BMJ 2002; 23;325:1183-8.

van Os J, Bak M, Hanssen M, Bijl RV, de Graaf R, Verdoux H. Cannabis use and psychosis: a longitudinal population-based study. Am J Epidemiol 2002; 15;156:319-27.

Henquet C, Krabbendam L, Spauwen J, Kaplan C, Lieb R, Wittchen HU, et al. Prospective cohort study of cannabis use, predisposition for psychosis, and psychotic symptoms in young people. BMJ 2005;330:11-4.

Fergusson DM, Horwood LJ, Swain-Campbell NR. Cannabis dependence and psychotic symptoms in young people. Psychol Med 2003;33:15-21.

Arseneault L, Cannon M, Poulton R, Murray R, Caspi A, Moffitt TE. Cannabis use in adolescence and risk for adult psychosis: longitudinal prospective study. BMJ 2002;325(7374):1212-3.

Stefanis NC, Delespaul P, Henquet C, Bakoula C, Stefanis CN, van Os J. Early adolescent cannabis exposure and positive and negative dimensions of psychosis. Addiction 2004;99:1333-41.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Porque Liberais e Ateus São Mais Inteligentes.

De gustibus non est disputandum. Satoshi Kanazawa, economista, pesquisador da London School of Echonomics and Political Science inicia seu artigo publicado no periódico Social Psychology Quarterly com esta citação logo no primeiro parágrafo. Este artigo – que classifico como leitura fundamental – apresenta e comprova empiricamente uma teoria chamada pelo autor de Hipótese de Interação QI-Savana. Para entender de que se trata, precisamos saber primeiro o que é Princípio Savana.

O Princípio Savana prevê que as adaptações físicas e psicológicas do ser humano são desenhadas segundo os ambientes de adaptação, não necessariamente sendo o ambiente atual. O cérebro humano, por exemplo, teria dificuldade em lidar com situações que não existiram no seu ambiente de adaptação ancestral. Vários exemplos são citados pelo autor comprovando o Efeito Savana, postulado e estudado por diversos outros autores.

A inteligência do ser humano pode ser medida de várias formas, denotando diferentes formas de “inteligência”. A chamada Inteligência Geral - medida, entre outros parâmetros, pelo Quociente de Inteligência (QI) – influencia de maneira indiscriminada a capacidade de lidar com situações evolutivamente novas ou conhecidas. Por isso, o autor apresenta a Hipótese de Interação Savana-QI que propõe que indivíduos mais inteligentes são mais aptos a abraçar e lidar com situações que não fazem parte do ambiente de evolução ancestral. Segundo esta teoria, pessoas mais inteligentes conseguem lidar com e aceitar situações, idéias e conceitos modernos, que não fazem parte da herança ancestral e dos saberes evolutivos do homem.

Para testar sua hipótese, o autor apresenta o resultado de análises de correlação entre QI e a preferência comportamental em adolescentes e adultos, em relação a três comportamentos: liberalismo versus conservadorismo, ateísmo versus religiosidade e monogamia versus poligamia. Os dados foram obtidos do National Longitudinal Study of Adolescent Health e do General Social Survey, ambos programas estadunidenses.

Liberalismo versus conservadorismo foi escolhido porque o ser humano foi desenhado pela evolução para ser altruísta somente com indivíduos geneticamente relacionados e não com um número indefinido de completos estranhos. Isto ocorre porque os nossos ancestrais viviam em comunidades pequenas onde quase todos eram geneticamente relacionados. Noções complexas de sociedade e humanidade em um mundo globalizado, superação de barreiras étnicas e culturais para integração dos povos, típicos do pensamento liberal é uma situação nova na evolução humana.

Ateísmo versus religiosidade, porque a crença em uma força imaterial superior faz parte do processo evolutivo humano para buscar causas para os acontecimentos da natureza. A falta de uma causa compreensível fez o homem desenvolver a ideia de Deus. O ateísmo é um conceito relativamente novo e sem participação anterior na formação evolutiva da psicologia humana.

Monogamia versus poligamia, porque evolutivamente a poligamia fazia parte de uma estratégia de competição entre machos pela disseminação de seus genes. A monogamia, imposta socialmente ao homem nos dias de hoje, é uma situação evolutivamente nova na humanidade.

A Hipótese de Interação Savana-QI postula então que pessoas mais inteligentes, tendo a capacidade maior de lidar com situações evolutivamente novas para a humanidade, seria mais propensas a entender e adotar ideias e conceitos liberais, ateístas e monogâmicos. Este último, no caso dos homens mas não no das mulheres, pois monogamia não é uma novidade evolutiva para mulheres, desde que as nossas ancestrais precisavam ser monoândricas para garantir a proteção própria e da prole.

Os resultados mostram que há uma intensa correlação positiva entre QI e a caracterização da pessoa como liberal e negativas entre QI e religiosidade e QI e comportamento poligâmico em homens. A figura abaixo mostra dois gráficos que denotam bem claramente esta relação:


A conclusão do trabalho é bem clara no seu título. Em última análise, podemos dizer que ateus, liberais e homens monogâmicos são mais inteligentes que conservadores, religiosos e homens poligâmicos, respectivamente.

Em particular, como eu me considero bastante liberal e sou totalmente monogâmico, me dou ao luxo de ser um pouco religiosos. Principalmente porque minha religião não se encaixa em nenhuma listada no artigo, mas isso é assunto para outro post..

REFERÊNCIA:

KANAZAWA, S. 2010. Why Liberals and Atheists Are More Intelligent. Soc. Pshycol. Quaterly 73, 1:33-57.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Biotecnologia da tatuagem.

   Tatuagens têm sido utilizadas por diversos povos desde os primórdios da humanidade, desde esquimós da Islândia até Maoris e polinésios. A tecnologia da pigmentação da pele evoluiu bastante, principalmente em relação aos meios de impregnação, utilizando máquinas modernas e variações de frequência a profundidade de penetração da agulha para atingir diferentes efeitos e durações a depender do tipo de pele a ser tatuada.

   Pouca informação ainda existe sobre como estes pigmentos interagem com nosso organismo, como são metabolizados e qual o real impacto toxicológico deles. No entanto, fazendo uma busca na literatura corrente - como pressupõe a motivação deste blog - achei algumas informações que explicam as afirmações, a princípio descabidas, que ouvimos nos estúdios de tatuagem, como: "depois de um tempo de seção a pele rejeita e cospe a tinta" e etc.

   As tintas para tatuagem são compostas de pigmentos insolúveis em água veiculados com dióxido de titânio que são injetados na pele pelas agulhas. Por serem insolúveis, estes componentes permanecem em estado sólido na derme - camada profunda da pele - não sendo removidos pelos nossos sistemas de defesa. Originalmente, estes pigmentos consistiam de misturas de carvão - no caso da tinta preta - ou de sais inorgânicos principalmente de metais pesados como mercúrio, prata e chumbo - no caso das coloridas. A descoberta da toxicidade destes compostos fez a indústria de tintas buscar pigmentos orgânicos que pudessem ser utilizados com mesmo resultado. Embora não haja estudos completos sobre o toxicidade desses pigmentos, o FDA não aprova o uso de nenhum deles e a ANVISA deu um prazo de até fevereiro de 2010 para que a indústrias façam o registro de suas tintas. Abaixo alguns dos pigmentos orgânicos utilizados nas tintas modernas:


   A partir do superior esquerdo, em sentido horário, pigmentos azul, vermelho, verde e amarelo.

   A localização do pigmento depende da idade da tatuagem. Durante os primeiros 15 dias após o procedimento, os pigmentos se concentram na interface derme-epiderme, abaixo da camada de queratinização/cicatrização. Parte do pigmento é perdido nestes processos. A recomendação de não arrancar a famosa casquinha existe pois a retirada da mesma pode remover fisicamente o pigmento, dilacerando as camadas da derme abaixo da cicatrização (Lea & Pawlowski, 1987). Quando a tatuagem sara - o que leva cerca de quinze dias - a maior parte do pigmento se concentra nas várias camadas da derme (Sperry, 1992). Abaixo um corte histológico mostrando a localização do pigmento vermelho na derme:


   Os pigmentos insolúveis permanecem parte no interstício - nome dado ao meio externo às células - recobrindo os fibroblastos ou, ainda, endocitados por macrófagos e encapsulados em vacúolos intracelulares. As partículas de pigmento que permanecem na derme causam diminuição da produção de colágeno, o que pode estar associado a diversas complicações dermatológicas potencialmente causadas pela tatuagem (Falconi e cols., 2009). Além de encapsular as partículas partículas de pigmento, os macrófagos têm a capacidade de metabolizá-los através do sistema citocromo P450 - responsável pelo metabolismos dos chamados xeno-compostos, substâncias estranhas e potencialmente danosas ao organismo - transformando-os em substâncias solúveis que podem ser eliminadas via circulação linfática (Cui e cols., 2005; Baron e cols., 1998). Parece claro então que quanto maior a proporção de pigmento endocitado por macrófagos, maior será a perda de coloração por metabolização do pigmento, já que parte deste será eliminado. 

   A figura abaixo mostra um foto de microscopia eletrônica com fibroblastos em cultura com a superfície impregnada com o pigmento de tatuagem:

   A escarificação da pele pela agulha, gera uma intensa reação inflamatória local, com repercussões sistêmicas, que leva ao recrutamento de macrófagos à derme sendo tatuada. Quanto mais longa a duração da seção de tatuagem, maior a reação inflamatória e mais macrófagos serão recrutados para o local. Daí a afirmação dos tatuadores de que a pele se torna "resistente" e ainda que "cospe" a tinta, deixando partes descoloridas no desenho. O ideal é que cada seção não dure mais do que 2 horas para evitar perda de pigmentação.

   Infelizmente, poucos estudos têm sido feito com interesse de melhorar a qualidade dos pigmentos, desenhos ou técnicas de tatuagem, mais sim na melhora dos procedimentos de remoção cirúrgica ou a laser das tatuagens - como é o caso dos que foram citados aqui. De qualquer forma, a interação tecido-pigmento pode ser um campo interessante de pesquisa biotecnológica para melhoria dos pigmentos visto que a procura por esta arte tem sido crescente - mesmo depois de milênios - em todo o mundo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Super Freakonomics: maior, melhor, mais surpreendente.


   Após recomendar a leitura do livro Freakonomics em postagem anterior, chamo atenção para esta continuação primorosa: Super Freakonomics. Nesta nova obra, os autores parecem ter melhorado a fórmula da escrita além de trazerem um número ainda maior de esquisitices desvendadas pela análise econométrica dos dados mais diversos. Informações como: "ir ao serviço médico de emergência causa mais mortes que não ir..." e "a resposta exageradamente medrosa aos atos terroristas podem trazer mais prejuízo - econômico e pessoal - que o próprio ato em si..." são pérolas da Microeconomia que, mais uma vez, derrubam o pernicioso senso comum.

   Tenho o hábito de ler na cama antes de dormir. No entanto, com Super Freakonomics tive que mudar este hábito pois além de não conseguir parar, passo vários minutos  após a leitura digerindo as informações. Aliás, a única queixa que tenho do livro: tirar meu sono. Mas a que se propõem iniciativas que visam derrubar o senso comum além de fazer as pessoas acordarem. Neste propósito, Super Freakonomics cumpre seu objetivo.