segunda-feira, 29 de março de 2010

Porque Liberais e Ateus São Mais Inteligentes.

De gustibus non est disputandum. Satoshi Kanazawa, economista, pesquisador da London School of Echonomics and Political Science inicia seu artigo publicado no periódico Social Psychology Quarterly com esta citação logo no primeiro parágrafo. Este artigo – que classifico como leitura fundamental – apresenta e comprova empiricamente uma teoria chamada pelo autor de Hipótese de Interação QI-Savana. Para entender de que se trata, precisamos saber primeiro o que é Princípio Savana.

O Princípio Savana prevê que as adaptações físicas e psicológicas do ser humano são desenhadas segundo os ambientes de adaptação, não necessariamente sendo o ambiente atual. O cérebro humano, por exemplo, teria dificuldade em lidar com situações que não existiram no seu ambiente de adaptação ancestral. Vários exemplos são citados pelo autor comprovando o Efeito Savana, postulado e estudado por diversos outros autores.

A inteligência do ser humano pode ser medida de várias formas, denotando diferentes formas de “inteligência”. A chamada Inteligência Geral - medida, entre outros parâmetros, pelo Quociente de Inteligência (QI) – influencia de maneira indiscriminada a capacidade de lidar com situações evolutivamente novas ou conhecidas. Por isso, o autor apresenta a Hipótese de Interação Savana-QI que propõe que indivíduos mais inteligentes são mais aptos a abraçar e lidar com situações que não fazem parte do ambiente de evolução ancestral. Segundo esta teoria, pessoas mais inteligentes conseguem lidar com e aceitar situações, idéias e conceitos modernos, que não fazem parte da herança ancestral e dos saberes evolutivos do homem.

Para testar sua hipótese, o autor apresenta o resultado de análises de correlação entre QI e a preferência comportamental em adolescentes e adultos, em relação a três comportamentos: liberalismo versus conservadorismo, ateísmo versus religiosidade e monogamia versus poligamia. Os dados foram obtidos do National Longitudinal Study of Adolescent Health e do General Social Survey, ambos programas estadunidenses.

Liberalismo versus conservadorismo foi escolhido porque o ser humano foi desenhado pela evolução para ser altruísta somente com indivíduos geneticamente relacionados e não com um número indefinido de completos estranhos. Isto ocorre porque os nossos ancestrais viviam em comunidades pequenas onde quase todos eram geneticamente relacionados. Noções complexas de sociedade e humanidade em um mundo globalizado, superação de barreiras étnicas e culturais para integração dos povos, típicos do pensamento liberal é uma situação nova na evolução humana.

Ateísmo versus religiosidade, porque a crença em uma força imaterial superior faz parte do processo evolutivo humano para buscar causas para os acontecimentos da natureza. A falta de uma causa compreensível fez o homem desenvolver a ideia de Deus. O ateísmo é um conceito relativamente novo e sem participação anterior na formação evolutiva da psicologia humana.

Monogamia versus poligamia, porque evolutivamente a poligamia fazia parte de uma estratégia de competição entre machos pela disseminação de seus genes. A monogamia, imposta socialmente ao homem nos dias de hoje, é uma situação evolutivamente nova na humanidade.

A Hipótese de Interação Savana-QI postula então que pessoas mais inteligentes, tendo a capacidade maior de lidar com situações evolutivamente novas para a humanidade, seria mais propensas a entender e adotar ideias e conceitos liberais, ateístas e monogâmicos. Este último, no caso dos homens mas não no das mulheres, pois monogamia não é uma novidade evolutiva para mulheres, desde que as nossas ancestrais precisavam ser monoândricas para garantir a proteção própria e da prole.

Os resultados mostram que há uma intensa correlação positiva entre QI e a caracterização da pessoa como liberal e negativas entre QI e religiosidade e QI e comportamento poligâmico em homens. A figura abaixo mostra dois gráficos que denotam bem claramente esta relação:


A conclusão do trabalho é bem clara no seu título. Em última análise, podemos dizer que ateus, liberais e homens monogâmicos são mais inteligentes que conservadores, religiosos e homens poligâmicos, respectivamente.

Em particular, como eu me considero bastante liberal e sou totalmente monogâmico, me dou ao luxo de ser um pouco religiosos. Principalmente porque minha religião não se encaixa em nenhuma listada no artigo, mas isso é assunto para outro post..

REFERÊNCIA:

KANAZAWA, S. 2010. Why Liberals and Atheists Are More Intelligent. Soc. Pshycol. Quaterly 73, 1:33-57.

3 comentários:

  1. Muito interessante essa visão, mas eu não consigo concordar com a parte relacionada a monogamia. Se o argumento citado está estritamente relacionado a disseminação de genes pelos antepassados ele perdeu no caminho as relações de poder que existiram na poligamia do passado e tudo aquilo relacionado ao maior dinamismo da vida, auto-suficiencia (outro sinal de inteligencia) e busca consciente pelo puro prazer que caracterizariam uma certa poligamia no presente (poligamia ou simplesmente a não manutenção de um parceiro fixo e/ou único), tanto masculina quanto feminina.

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  2. Você deveria ler o artigo. Ele apresenta dados e contra dados não há argumentos. Outra coisa é que, segundo o autor, a inteligência está justamente em superar as forças ancestrais que impulsionam à poligamia, em prol de um bem maior, nesse caso, a estabilidade social e familiar. Se quiser, me passa seu email que eu te envio o PDF do artigo.
    Obrigado por comentar o Blog e continue lendo.

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  3. E por que a monogamia é considerada atualmente necessária?

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