O Princípio Savana prevê que as adaptações físicas e psicológicas do ser humano são desenhadas segundo os ambientes de adaptação, não necessariamente sendo o ambiente atual. O cérebro humano, por exemplo, teria dificuldade em lidar com situações que não existiram no seu ambiente de adaptação ancestral. Vários exemplos são citados pelo autor comprovando o Efeito Savana, postulado e estudado por diversos outros autores.
A inteligência do ser humano pode ser medida de várias formas, denotando diferentes formas de “inteligência”. A chamada Inteligência Geral - medida, entre outros parâmetros, pelo Quociente de Inteligência (QI) – influencia de maneira indiscriminada a capacidade de lidar com situações evolutivamente novas ou conhecidas. Por isso, o autor apresenta a Hipótese de Interação Savana-QI que propõe que indivíduos mais inteligentes são mais aptos a abraçar e lidar com situações que não fazem parte do ambiente de evolução ancestral. Segundo esta teoria, pessoas mais inteligentes conseguem lidar com e aceitar situações, idéias e conceitos modernos, que não fazem parte da herança ancestral e dos saberes evolutivos do homem.
Para testar sua hipótese, o autor apresenta o resultado de análises de correlação entre QI e a preferência comportamental em adolescentes e adultos, em relação a três comportamentos: liberalismo versus conservadorismo, ateísmo versus religiosidade e monogamia versus poligamia. Os dados foram obtidos do National Longitudinal Study of Adolescent Health e do General Social Survey, ambos programas estadunidenses.
Liberalismo versus conservadorismo foi escolhido porque o ser humano foi desenhado pela evolução para ser altruísta somente com indivíduos geneticamente relacionados e não com um número indefinido de completos estranhos. Isto ocorre porque os nossos ancestrais viviam em comunidades pequenas onde quase todos eram geneticamente relacionados. Noções complexas de sociedade e humanidade em um mundo globalizado, superação de barreiras étnicas e culturais para integração dos povos, típicos do pensamento liberal é uma situação nova na evolução humana.
Ateísmo versus religiosidade, porque a crença em uma força imaterial superior faz parte do processo evolutivo humano para buscar causas para os acontecimentos da natureza. A falta de uma causa compreensível fez o homem desenvolver a ideia de Deus. O ateísmo é um conceito relativamente novo e sem participação anterior na formação evolutiva da psicologia humana.
Monogamia versus poligamia, porque evolutivamente a poligamia fazia parte de uma estratégia de competição entre machos pela disseminação de seus genes. A monogamia, imposta socialmente ao homem nos dias de hoje, é uma situação evolutivamente nova na humanidade.
A Hipótese de Interação Savana-QI postula então que pessoas mais inteligentes, tendo a capacidade maior de lidar com situações evolutivamente novas para a humanidade, seria mais propensas a entender e adotar ideias e conceitos liberais, ateístas e monogâmicos. Este último, no caso dos homens mas não no das mulheres, pois monogamia não é uma novidade evolutiva para mulheres, desde que as nossas ancestrais precisavam ser monoândricas para garantir a proteção própria e da prole.
Os resultados mostram que há uma intensa correlação positiva entre QI e a caracterização da pessoa como liberal e negativas entre QI e religiosidade e QI e comportamento poligâmico em homens. A figura abaixo mostra dois gráficos que denotam bem claramente esta relação:
A conclusão do trabalho é bem clara no seu título. Em última análise, podemos dizer que ateus, liberais e homens monogâmicos são mais inteligentes que conservadores, religiosos e homens poligâmicos, respectivamente.
Em particular, como eu me considero bastante liberal e sou totalmente monogâmico, me dou ao luxo de ser um pouco religiosos. Principalmente porque minha religião não se encaixa em nenhuma listada no artigo, mas isso é assunto para outro post..
REFERÊNCIA:
KANAZAWA, S. 2010. Why Liberals and Atheists Are More Intelligent. Soc. Pshycol. Quaterly 73, 1:33-57.
Muito interessante essa visão, mas eu não consigo concordar com a parte relacionada a monogamia. Se o argumento citado está estritamente relacionado a disseminação de genes pelos antepassados ele perdeu no caminho as relações de poder que existiram na poligamia do passado e tudo aquilo relacionado ao maior dinamismo da vida, auto-suficiencia (outro sinal de inteligencia) e busca consciente pelo puro prazer que caracterizariam uma certa poligamia no presente (poligamia ou simplesmente a não manutenção de um parceiro fixo e/ou único), tanto masculina quanto feminina.
ResponderExcluirVocê deveria ler o artigo. Ele apresenta dados e contra dados não há argumentos. Outra coisa é que, segundo o autor, a inteligência está justamente em superar as forças ancestrais que impulsionam à poligamia, em prol de um bem maior, nesse caso, a estabilidade social e familiar. Se quiser, me passa seu email que eu te envio o PDF do artigo.
ResponderExcluirObrigado por comentar o Blog e continue lendo.
E por que a monogamia é considerada atualmente necessária?
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