Evolução é a mudança ocorrida nas características
hereditárias dos seres vivos de geração em geração, responsável pela
diversidade biológica e pela origem das espécies. Segundo a Teoria postulada
por Charles Darwin em 1859 e publicada em A Origem as Espécies, todas as formas
de vida do planeta teriam evoluído a partir de um único ancestral comum que
teria vivido cerca de 3,5 a 4 bilhões de anos atrás.
Quando se fala em Evolução, tenho ouvido algumas pessoas
cometerem dois erros fundamentais: 1. Evolução é apenas uma teoria; e 2. Nós
descendemos dos macacos. Resolvi então, nessa postagem, tentar explicar essas
questões.
Tem se tornado algo comum pessoas esclarecidas afirmarem que
a Evolução é apenas uma teoria, o que deixaria margem para não ser verdadeira.
Essa afirmação vem do desconhecimento científico e da desinformação. Na
linguagem vulgar, teoria dá a conotação de uma opinião pessoal sem
fundamentação ou, até mesmo, uma afirmação que não pode ser comprovada (“é
somente uma teoria”). Em Ciência o termo Teoria tem outra conotação: uma
explicação bem embasada e referenciada para algum fenômeno. Exemplificamos com a Teoria da
Relatividade, a Teoria da Gravidade e a Teoria do Big-Bang. Assim é a Evolução,
uma Teoria cujas evidências continuam se acumulando e sendo testadas nos
mais diversos campos da Ciência. Uma Teoria que explica um fenômeno da
natureza, a Evolução.
O principal argumento das pessoas que me afirmam isso está –
dizem elas – na inexistência do tão afamado “elo perdido”; outro fruto do
desconhecimento científico. O que o vulgo chama de “elo perdido” trata-se de
fósseis transacionais ou intermediários; registros fósseis de organismos que
possuem concomitantemente características de um grupo ancestral e de um grupo
descendente. Diversos exemplos de fósseis transacionais foram descobertos e
publicados para as mais diversas espécies. Entre elas: Tiktaalik roseae (1), um peixe com característica tetrápode (quatro
pés) que teria sido a ligação entre vertebrados aquáticos e terrestres; ou o Archaeopteryx (2), um pássaro primitivo
com diversas características dos répteis, que fechou de vez a Teoria de que os
pássaros evoluíram a partir dos dinossauros.
Reconstituição do Tiktaalik roseae a partir de registros fósseis.
Reconstituição do Archaeopteryx a partir de registros fósseis.
Ok, muitas dessas pessoas poderiam argumentar que em seres
humanos não há nada evidenciado e que não há “elo perdido”. Mesmo considerando
que o Homo sapiens é apenas uma das
centenas de milhares de espécies no planeta e que a necessidade de haver um “elo
perdido” para a evolução humana é apenas uma visão antropocentrista, esse pensamento ainda é
fruto do desconhecimento. Em 1891, foi encontrado um esqueleto, em Java, com
características de primatas ancestrais, como um molar maior do que qualquer
dente de hominídio moderno, mas com o fêmur alongado e inserção pélvica sugerindo
a postura ereta. Esse organismo foi denominado Pithecanthropus erectus (homem-macaco ereto)(3). Após este,
vários outros fósseis transacionais foram encontrados ligando características
do gênero Homo, ao qual nós
pertencemos, ao gênero Pan, ocupado
pelos chimpanzés e bonobos. Um dos mais famosos Fósseis Transacionais é Lucy, um esqueleto
40% preservado de Australopithecus
afarensis, um ancestral entre o Homo
bípede e nossos antepassados quadrúpedes, como o chimpanzé e o gorila (4). Mas
o registro mais contundente de Fóssil Transacional entre humanos e os antigos
primatas foi publicado em 2004 na revista Science: o Pierolapithecus catalaunicus, apresentando características de
macacos, presentes nos grandes primatas (apes)
mas com uma estrutura corporal que permitia a postura ereta (5).
Lucy. Reconstituição do Australopithecus afarensis, a partir de registros fósseis.
Como visto, não temos simplesmente O Elo Perdido mas uma série de elos
perdidos; diversos registros fósseis de transição que mostram características
dos antigos primatas, presentes nos chimpanzés, bonobos, orangotangos e gorilas, em
conjunto com características humanas modernas, como a postura ereta.
As afirmações acima nos remetem ao segundo erro: segundo a
evolução, nós não descendemos dos macacos. Isso é um erro conceitual grave.
Homens e macacos, assim como todas as espécies que existem – até as bactérias –
são organismos modernos que sobreviveram a milênios de evolução sobre seus
ancestrais. Homens e chimpanzés possuem ancestrais comuns. Esses ancestrais
comuns – genericamente chamados de LUCA (Last
Unknown Common Ancestral) seriam espécies extintas que foram sucedidos por
uma linha evolutiva, devido à Seleção Natural, até nós ou até os chimpanzés.
Então quando seu amiguinho perguntar por que o macaco do
zoológico não evolui para homem, você pode responder: “Ele evolui sim mas não para
homem. Na verdade, ele está evoluindo. Se você quiser esperar, em uma ou duas
milhões de gerações, ele deverá se tornar uma versão evoluída de um chimpanzé,
talvez até inteligente, mas nunca será um homem”.
Os artigos da paleontologia modernos nem tentam mais comprovar a
Evolução nos dias de hoje. Tantas evidências comprovam tão claramente as
Teorias de Darwin que diversos achados e outras teorias se embasam nela para
justificar, explicar e desenvolver seus resultados. Ciências sociais,
geológicas, climatológicas, genéticas e diversas outras áreas comprovam a
Evolução como um fato e utilizam seus postulados. Se algo equivocado ou errado
existisse na Teoria da Evolução, algum desses achados mostrariam-se em desacordo
com a mesma.
Uma revisão muito interessante publicada na revista Seminars in Cell & Developmental Biology
traça um perfil filogenético de diversas espécies de hominínios baseados na morfologia
dos crânios (6) e ajuda a entender melhor as questões relacionadas aos dois
erros comuns que mencionei:
Árvore filogenética calculada a partir da comparação anatômica de crânios encontrados em fósseis. A posição de cada crânio no eixo Y indica sua forma craniana (tamanho da face/tamanho da caixa encefálica). O número acima de cada crânio indica o volume endocraniano (volume interno da caixa craniana). Os números em cada galho da árvore filogenética (Painel de baixo) indicam a data estimada da divergência evolutiva entre as espécies. (P. paniscus = bonobo; P. troglodytes = chimpanzé)
A Figura acima mostra a comparação dos crânios achados em
fósseis de hominínios de diversas eras. Sua relação evolutiva é mostrada em uma
árvore filogenética calculada a partir destas comparações. Os números nos nós da árvore indicam o tempo decorrido desde a divergência entre as espécies
mostradas nos galhos, ou seja, a época provável em que viveu seu ancestral comum. Esse
esquema é bem ilustrativo para demonstrar a correção do erro 2, do qual falei. Pan Troglodites (chimpanzé) não é um
ancestral de Homo sapiens (nós), nem
vai evoluir até Homo porque, para isso, precisaria involuir 7 milhões de anos
até o nosso ancestral comum e depois evoluir novamente por mais 7 milhões de
anos até nós. Algo, sim, impossível.
REFERÊNCIAS
1. EDWARD, B. DAESCHLER, N. H. SHUBIN
AND FARISH A. JENKINS, JR (2006). "A Devonian tetrapod-like fish and the
evolution of the tetrapod body plan". Nature
440, 7085:757–763. PMID 16598249.
2. GODEFROIT, P.; CAU, A.; HU, D.;
ESCUILLIÉ, F.; WU, W.; DYKE, G. (2013). "A Jurassic avialan dinosaur from
China resolves the early phylogenetic history of birds". Nature 498, 7454:359–362. PMID 23719374
3. ANTON, S. C. (2003) “Natural History
of Homo erectus” Yearbook Of Physical
Anthropology 46:126–170. PMID: 14666536
4. WHITE, T.D. , SUWA, G., SIMPSON, S.,
ASFAW, B. (2000). "Jaws and teeth of Australopithecus afarensis from Maka,
Middle Awash, Ethiopia". American
Journal of Physical Anthropology 111 (1: 45–68. PMID 10618588.
5. MOYA-SOLA, S., KOHLER, M., ALBA, D.
M. CASANOVAS-VILAR, I., GALINDO, J. (2004) “Pierolapithecus
catalaunicus, a New Middle Miocene Great Ape from Spain”. Science 306, 1339-1344. PMID: 15550663.
6. Zollikofer, C. P. E., León, M. S. P. (2010) The evolution of hominin
ontogenies. Seminars in Cell &
Developmental Biology, 21:441–452. PMID: 19900572.