Recorri ao riquíssimo site do IBGE com suas estatísticas de tudo que interessa e não interessa a qualquer cidadão brasileiro. Recolhi dados dos nascimentos registrados entre os anos de 2003 e 2008 diferenciados por mês de nascimento, região e estado da federação. Estes dados me deram algumas indicações interessantes.
A primeira delas é que o suposto aumento da natalidade em novembro - crianças concebidas em fevereiro - não procede, é mito. O gráfico abaixo mostra o percentual de nascimento do ano em relação ao mês de concepção. Nota-se de imediato que fevereiro é um dos mais baixos índices de concepção do ano em todas as regiões do Brasil, desmitificando a ideia dos filhos do carnaval. Outro fato interessante é que os índices de concepção não parecem ser afetados por épocas ou festas típicas regionais mas sim de maneira relativamente homogênea e sazonal em todo o país, com picos em junho e agosto e reduzidos em fevereiro e março.
Não creio que as festas juninas tampouco sejam responsáveis pelo aumento das concepções em junho pois este comportamento é observado em todo o país, mesmo em regiões onde as festas juninas não são tão comemoradas, como Sul e Sudeste. Da mesma forma, não creio que o frio tenha influência importante - o que causaria o aumento das concepções no inverno - pois regiões onde as estações do ano são menos marcadas apresentariam este efeito diminuído, o que não é o caso. Da mesma forma, a região Sul - mais fria do país - deveria apresentar este efeito de forma mais acentuada, o que não ocorre.
Se analisarmos o gráfico por unidade da Federação, observamos o mesmo comportamento para todos os estados individualmente, com uma intrigante exceção, o Amapá:
O Amapá apresenta um pico de concepção nos mês de novembro - bebês nascidos em agosto. Não tenho uma explicação para esta discrepância mas desafio a quem tiver mais conhecimento acerca da cultura Amapaense que tente explicar o que ocorre em novembro nesse estado.
Analisando o comportamento do índice de concepção nos estados, observamos ainda algo interessante: todos os estados, inclusive o Amapá, apresentam um "dente" no mês de julho. Tendo um comportamento sazonal, parece que observaríamos um máximo de concepção entre junho e agosto, possivelmente no mês de julho. No entanto, algo ocorre em julho que faz com que o número de concepções seja menor do que os meses vizinhos. A princípio, achei que poderia ser efeito das férias escolares, o que faria as crianças permanecerem mais tempo em casa, demandando mais tempo, esforço e dedicação dos pais. Com isso, talvez sobrasse menos tempo para fazer irmãozinhos...
O IBGE não traz dados sobre o número de irmãos do recém-nascido mas, para resolver esta questão, podemos fazer uma inferência: há maior probabilidade de que mulheres com idade entre 15 e 19 anos na ocasião do parto sejam primíparas - ou seja, não terem filhos anteriores para interferir na concepção - do que mulheres entre 30 e 34 anos. No entanto, ambos os grupos parecem apresentar o "dente" de diminuição de índice de concepção no mês de julho, sugerindo que as férias escolares não devem ser o motivo desta diminuição.
Aguardo comentários de quem conseguir enxergar mais informação nos dados para que possamos discutir. Por enquanto, desmistificar o senso comum de que os "filhos do carnaval" estão por aí, nascendo em novembro, já foi meu objetivo alcançado desta postagem.