sábado, 17 de outubro de 2009

H1N1. Já vi esse filme...

 Semana passada fui com Astria, minha esposa, fazer outra ultrassonografia pra acompanhar o desenvolvimento da Malú. Me chamou atenção que todas as outras vezes que fomos à clínica, a radiologista, que está grávida, usava máscara. Até aí, tudo ok; profissional de saúde, atendendo um monte de pacientes por dia, grávida... nada mais normal que se prevenir da terrível H1N1!!!!!!!! A assistente, como é praxe das assistentes de médicos, chegou a ser agressiva - Limpa a mão com gel! - apontando para o dispensador de sabão com "gel antisséptico" que agora virou moda. Desta vez ela não usava mais a máscara... A dúvida me veio à mente: porque desta última vez ela não usava máscara? Ela continuava grávida, continuava atendendo vários pacientes... Então, me toquei do que mudou. O Jornal Nacional parou de anunciar os boletins de novos casos e mortes por H1N1 diariamente. É verdade, vocês também repararam? O que houve? A doença parou de matar? Descobriram uma cura milagrosa? Não, a notícia foi outra: "Ministério da Saúde diz que Tamiflu chegará às farmácias (Folha UOL, 3 de setembro de 2009) O laboratório Roche, responsável pela produção do Tamiflu, usado no combate à gripe A, poderá distribuir o medicamento a farmácias e drogarias do país. A informação foi divulgada nesta quinta-feira pelo diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, Eduardo Hage". Muita coisa se explica.
Este ano, foram notificadas 899 mortes por gripe H1N1 no Brasil. Neste mesmo período, mais de 3 mil pessoas morreram de tuberculose. Além disso, embora não haja dados concretos, possivelmente porque a Roche não tinha interesse, uma busca que fiz por artigos em pesquisas epidemiológicas nas décadas de 80 e 90 indicou que o subtipo H1N1 sempre pareceu ser muito comum entre as viroses respiratórias diagnosticadas no país. Arrisco a dizer que, se fosse investigado, o número de óbitos nos anos anteriores não seriam muito diferentes do de 2009.
Nos Estados Unidos, o Relenza, da Glaxo Smithkline, disputa o mercado de “antiflus” com o Tamiflu. Analisando o balanço das ações da GSK na NYSE, a bolsa de Nova Iorque, vemos o efeito desses boatos a curtíssimo e curto prazo. No dia 24 de abril de 2009, o governo americano anunciou a aquisição de mais de 12 milhões de doses de antigripais, incluindo o Relenza (Market Watch). Na segunda-feira seguinte, as ações da GSK saltaram 7,55% na bolsa americana. Esta é uma alta considerada astronômica para a BOVESPA, quanto mais para a NYSE. Mesmo havendo reequilíbrio de preços, em um dia de negócios destes, investidores com informação privilegiadas faturam milhões de dólares.

O Tamiflu é uma concessão da Gilead Science para a Roche. Estas duas empresas também vêm se beneficiando com a gripe suína da mesma forma que ocorreu em 2004-2005 com a gripe aviária. O efeito desta nova campanha nas cotações da Roche não são tão claros -provavelmente por conta da cautela do mercado pela crise recente - embora os lucros com contratos governamentais e licenciamento em vários países sejam muito grandes. No entanto, esta mesma estratégia rendeu uma valorização meteórica naquela época se compararmos a cotação das ações da Roche com o NYSEI, o IBOV deles:

Assim como no Brasil, onde nem liberadas para venda elas eram, estas drogas estavam em declínio nos EUA, com redução de produção pelos fabricantes. Pelo menos até os lobistas espalhadores de boatos entrarem em ação.
Não sou a favor destas teorias de conspiração, mas acho que temos que ter cuidado antes de entrar em pânico por conta de novas “epidemanias” anunciadas pela imprensa leiga...


http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u619011.shtml
http://www.marketwatch.com/story/government-releases-swine-flu-treatment